O Eclipse (L'eclisse, 1962) arremata a famosa trilogia da incomunicabilidade do diretor italiano Michelangelo Antonioni, precedido por A Aventura (L'avventura, 1960) e A Noite (La notte, 1961).
Estrelado por Monica Vitti e Alain Delon, o filme retrata dois momentos na vida afetiva da protagonista Vittoria, o término de um relacionamento e o início de outro, desta vez com Piero, corretor da Bolsa de Valores.
Quanto ao personagem, no roteiro dramático clássico, aquele que entre outros aspectos segue a dramática rigorosa, nele o personagem necessita de uma motivação para agir. Em O Eclipse, qual a motivação da protagonista? O que justifica sua ação? Nesse filme, não cabem tais questionamentos. Em Vittoria, o relacionamento com Piero inicia-se movido pelo acaso, sem pretensões. Ela percebe que o vazio se aproxima, enquanto ele demora mais a dar-se conta disso. O relacionamento entre ambos traz em si a marca do descompromisso e o rompimento está intrínseco desde seu início. Não há futuro, não há esperança.
Em tempos de cinema de efeitos, cortes e de ação cada vez mais veloz, filmes como O Eclipse nos lembram que o campo narrativo cinematográfico é múltiplo, sendo também possível assumir-se um tempo outro, com espaços para a reflexão do espectador sobre o que ele vê. Só essa reflexão é capaz de fazê-lo ver a si mesmo. E esse é, para mim, um dos grandes papéis do cinema.
O tempo é o personagem central em O Eclipse. O tempo antonioniano, para quem conhece os filmes anteriores da trilogia, sabe-se que é outro, é um tempo estendido, vagaroso e detalhista em mostrar subjetividades. Esse exibicionismo intimista, feito assim em outro tempo narrativo, chega ao ápice nos sete minutos finais do filme, onde mergulhamos em um espaço narrativo vazio. É ali que o espectador vivencia em maior dimensão os sentimentos de perda e desilusão dos protagonistas. O encontro que entre os protagonistas não houve é ilustrado por imagens de um cotidiano que indica que, apesar disso, a vida prossegue: pessoas descem de ônibus, folhas de árvores balançam ao vento, uma mulher empurra um carrinho de bebê pela calçada... Os sete minutos finais do filme inspiraram e ainda hoje inspiram diretores de cinema pelo mundo todo. Na contemporaneidade, a comparação entre as tomadas finais de O Eclipse e as realizadas no início de Elefante (2003), de Gus Van Sant, é possível. Um olhar mais analítico detectará semelhanças insuspeitadas.
Qual o sentido de tais imagens? Qual o sentido da existência? Qual o sentido dos relacionamentos? Parece que Antonioni tenta responder a todos esses questionamentos com seus deslumbrantes planos sobre o mistério da vaziez humana.
Em tempos de cinema de efeitos, cortes e de ação cada vez mais veloz, filmes como O Eclipse nos lembram que o campo narrativo cinematográfico é múltiplo, sendo também possível assumir-se um tempo outro, com espaços para a reflexão do espectador sobre o que ele vê. Só essa reflexão é capaz de fazê-lo ver a si mesmo. E esse é, para mim, um dos grandes papéis do cinema.
Oi querida! Não sabia que tinha este blog também... Agora é mais para acompanhar. Indiquei para um pessoal de cinema também. Mas quero saber outras novidades... Além deste blog maravilhoso o que andas fazendo?
ResponderExcluirBeijo Grande do teu amigo
Oscar
www.oscarcalixto.com.br
Belíssimo texto sobre um belíssimo filme. Parabéns!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir