As belas imagens da história de amor passada a bordo do barco Atalante, o último filme de Vigo, não deixam transparecer seus conturbados bastidores: o diretor filmava já bastante doente, morreria poucos meses depois das filmagens, e o filme passaria por sérias dificuldades de finalização.
O que o breve documentário exibido antes do filme contextualizava, coincidia com o sentimento de tristeza na platéia pelo fechamento, dali a dois dias, do Cine Paissandu, no Flamengo, um dos poucos cinemas de bairro da cidade do Rio de Janeiro, reduto de cinéfilos e amantes da sétima arte. Os motivos para o fechamento foram amplamente divulgados pela mídia local, relativos a problemas financeiros para a manutenção da sala. O que ocasionou protestos desesperados na tentativa de reverter o fechamento ou ao menos mobilizar as pessoas em torno de seu não fechamento.
O Atalante narra a lua-de-mel de um casal a bordo do navio homônimo, pelos canais de Paris. O dono do barco é Jean, o marido, e a bordo estão mais duas figuras. Uma delas, o tio, impõe à imagem um tom humano e sincero e, ao mesmo tempo, grotesco, seja por sua imagem tatuada, seja pelas atitudes, ou pela quantidade de gatos que convivem no espaço exíguo da embarcação, em cima da mesa, dentro dos armários e em cima das camas. Em contraste, Juliette, a recém esposa, surge sobre o barco em seu traje de noiva, uma das mais belas cenas do filme e da história do cinema, ou mergulha seu rosto numa tina onde diz ver o rosto de seu amado. O marido, ao contrário, não consegue o mesmo feito, o que frustra a jovem. Ela sonha conhecer Paris e em uma das atracagens do Atalante na cidade, conhece um vendedor ambulante que lhe atiça ainda mais a curiosidade. Juliette acaba fugindo, ao mesmo tempo em que Jean decide esquecê-la. Vendo seu sofrimento, o tio decide procurar a moça.
É um filme de constrates entre momentos de intenso lirismo e imagens quase documentais.
E é plenamente visível na imagem as influências de dois movimentos surgidos na França e quase contemporâneos ao filme: o impressionismo francês e o surrealismo.
O Atalante será lançado no Brasil em breve em dvd, juntamente com demais filmes de Jean Vigo.
Um filme que guardarei na lembrança não só pela beleza, mas também por ter sido minha última sessão de cinema no Paissandu.
Denise,
ResponderExcluirSeu comentário, tanto emocionado quanto pleno de referências e sua narrativa dinâmica me fizeram viajar n'O Atalante e nas vidas de seus personagens.
Espero ainda poder assistir, ainda que em DVD, essa preciosidade cinematográfica que você projetou em mim.
Obrigado. Sergio R.F.Varela.
Denise,
ResponderExcluirÉ um belo post para uma obra-prima. Ao que tudo indica não foi a sua última sessão, pois os donos do Paissandu já negociam uma forma de abri-lo novamente. Vamos torcer.
Afinal, conseguiu ver La León? É uma pena que o filme não recebeu a atenção que merecia.
Um abraço.
Luiz, obrigada pela ótima notícia sobre o Paissandu, e pelo comentário. Sabe, penso que os donos do cinema poderiam bem criar uma associação de amigos do Paissandu, nos moldes das que existem em museus. No caso do Paissandu, cada associado poderia contribuir com 5 ou 10 reais mensais, ou com um valor trimestral, semestral, ou algo semelhante. Eu toparia.
ResponderExcluirNão vi La León ainda, quero muito ver. Conta para mim sobre o que é?
Abração.
Olá,
ResponderExcluirAcho isso uma ótima idéia. Realmente, uma mensalidade seria uma boa saída. Por enquanto, acho que rola o interesse do grupo Arteplex. Talvez mesmo até o Estação negocie novas bases.
La León é sobre um pescador solitário e sua sexualidade. O filme tem bela fotografia e remete a Bresson e Malick. Vale a pena ver.
Li uma matéria interessante no blog da Variety a respeito do cinema on demand em que cita a Moviemobz como pioneira e na frente dos americanos. Dá uma olhada: http://cinematech.blogspot.com/2008/09/moviemobz-audiences-choose-what-they.html
Um abraço.
Denise,
ResponderExcluirEstá acompanhando o Festival do RIO?
Sempre que posso voto e comento no especial da Moviemobz: http://www.moviemobz.com/browse/festivaldorio2008
Um abraço.
Olá Denise, invado este espaço dedicado ao Atalante para outro tipo de recado (o fato é que não encontrei um email ou contato, bem provável que eu não tenha visto).
ResponderExcluirVenho em nome da RUA - Revista Universitária do Audiovisual - projeto de extensão criado por docentes e discentes do curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) neste ano. Gostaríamos de
saber da possibilidade de você linkar o site da RUA:
www.ufscar.br/rua ? Em contrapartida passariamos a também divulgar o seu portal em nosso site.
Obrigado desde já pela atenção e sucesso!
Pedro Marcondes (contato plmarcondes@gmail.com)
Estou cada vez mais fascinado pela produção de documentarios e foi uma satisfação achar seu blog com tantas dicas legais de cinema e ver a dica do livro da Sheila Curran. Eu produzi esse ano meu primeiro filme No Olhar o Muro, Na Mente a Arte, gostaria de convida-la a conhecer: www.noolharomuronamente.wordpress.com
ResponderExcluirabraços Péricles
Péricles, td bem? Não consegui acessar o link. Teria como enviar-me um press book ou o link direto para assistir?
ResponderExcluirAbraço,
Denise.