Um Crime Americano (2007) choca por vários fatores que o diretor e também roteirista do filme, Tommy O'Haver, soube muito bem orquestrar para contar a história real de Sylvia Likens, vítima aos 16 anos do mais brutal crime contra uma só pessoa ocorrido em Indianápolis, Indiana, USA, em 1965. Sylvia e sua irmã Jennie, mais jovem e deficiente, são deixadas temporariamente pelos pais, que trabalham em um circo, na casa de uma desconhecida, Gertrude Baniszewski, mãe solteira de sete filhos, em troca de 20 dólares semanais. Porém, Gertrude logo fará de Sylvia seu objeto para seu ódio e insanidade, começando por castigos físicos até o enclausuramento da moça no porão da casa, onde lhe perpetuará torturas diárias durante aproximadamente dois meses.
O filme torna-se chocante também pelo inevitável paralelo com o recente e bárbaro crime de Goiânia, onde uma criança de 12 anos era mantida em condições similares.
Alguns elementos nos levam a refletir sobre a violência na esfera social privada: a opção de Sylvia por entregar-se como mártir para proteger a irmã, o que parece ter aguçado ainda mais os instintos cruéis de Gertrude; a crescente participação dos filhos e seus amigos na tortura, o que, certamente, é o mais chocante na história; a omissão de todos, incluindo vizinhos, em socorrer Sylvia.
Atenção especial (diga-se especial para quem não sabe o desenlace da história real) para o final comovente, quando Sylvia faz questão de voltar à casa onde fora enclausurada.
E destaca-se ainda a excelente atuação das atrizes principais, Ellen Page (a mesma de Juno) como Sylvia, e Catherine Keener (de Capote) como Gertrude.
Um Crime Americano não aponta causas nem soluções para tamanha violência. No que o diretor acertou, na minha opinião. Ao contrário, ao mostrar a situação através de um recorte baseado no que de fato aconteceu, ele nos fornece a opção da reflexão, da análise.
Talvez a grande questão que fique ao final do filme, seja: "Um Crime Americano?"
Nenhum comentário:
Postar um comentário