segunda-feira, setembro 01, 2008

O Atalante - Minha ultima sessão de cinema no Paissandu

Minha última sessão de cinema no Paissandu foi às 19h15 de sexta, 29 de agosto de 2008. O filme escolhido foi o francês O Atalante (L' Atalante), de Jean Vigo, de 1934.

As belas imagens da história de amor passada a bordo do barco Atalante, o último filme de Vigo, não deixam transparecer seus conturbados bastidores: o diretor filmava já bastante doente, morreria poucos meses depois das filmagens, e o filme passaria por sérias dificuldades de finalização.

O que o breve documentário exibido antes do filme contextualizava, coincidia com o sentimento de tristeza na platéia pelo fechamento, dali a dois dias, do Cine Paissandu, no Flamengo, um dos poucos cinemas de bairro da cidade do Rio de Janeiro, reduto de cinéfilos e amantes da sétima arte. Os motivos para o fechamento foram amplamente divulgados pela mídia local, relativos a problemas financeiros para a manutenção da sala. O que ocasionou protestos desesperados na tentativa de reverter o fechamento ou ao menos mobilizar as pessoas em torno de seu não fechamento.

Um dos primeiros a tomar iniciativa foi Fabio Coutinho, integrante de meu grupo de discussão, Roteiros On Line, que disponibilizou um abaixo-assinado, ainda disponível no link http://www.petitiononline.com/15121960/petition.html . Até o momento (são 20h30 de segunda, 01/09/2008), constam 5.719 assinaturas.

O Atalante narra a lua-de-mel de um casal a bordo do navio homônimo, pelos canais de Paris. O dono do barco é Jean, o marido, e a bordo estão mais duas figuras. Uma delas, o tio, impõe à imagem um tom humano e sincero e, ao mesmo tempo, grotesco, seja por sua imagem tatuada, seja pelas atitudes, ou pela quantidade de gatos que convivem no espaço exíguo da embarcação, em cima da mesa, dentro dos armários e em cima das camas. Em contraste, Juliette, a recém esposa, surge sobre o barco em seu traje de noiva, uma das mais belas cenas do filme e da história do cinema, ou mergulha seu rosto numa tina onde diz ver o rosto de seu amado. O marido, ao contrário, não consegue o mesmo feito, o que frustra a jovem. Ela sonha conhecer Paris e em uma das atracagens do Atalante na cidade, conhece um vendedor ambulante que lhe atiça ainda mais a curiosidade. Juliette acaba fugindo, ao mesmo tempo em que Jean decide esquecê-la. Vendo seu sofrimento, o tio decide procurar a moça.

É um filme de constrates entre momentos de intenso lirismo e imagens quase documentais.

E é plenamente visível na imagem as influências de dois movimentos surgidos na França e quase contemporâneos ao filme: o impressionismo francês e o surrealismo.

O Atalante será lançado no Brasil em breve em dvd, juntamente com demais filmes de Jean Vigo.

Um filme que guardarei na lembrança não só pela beleza, mas também por ter sido minha última sessão de cinema no Paissandu.

Um Crime Americano (An American Crime)

Um Crime Americano (2007) choca por vários fatores que o diretor e também roteirista do filme, Tommy O'Haver, soube muito bem orquestrar para contar a história real de Sylvia Likens, vítima aos 16 anos do mais brutal crime contra uma só pessoa ocorrido em Indianápolis, Indiana, USA, em 1965. Sylvia e sua irmã Jennie, mais jovem e deficiente, são deixadas temporariamente pelos pais, que trabalham em um circo, na casa de uma desconhecida, Gertrude Baniszewski, mãe solteira de sete filhos, em troca de 20 dólares semanais. Porém, Gertrude logo fará de Sylvia seu objeto para seu ódio e insanidade, começando por castigos físicos até o enclausuramento da moça no porão da casa, onde lhe perpetuará torturas diárias durante aproximadamente dois meses.
O filme torna-se chocante também pelo inevitável paralelo com o recente e bárbaro crime de Goiânia, onde uma criança de 12 anos era mantida em condições similares.

Alguns elementos nos levam a refletir sobre a violência na esfera social privada: a opção de Sylvia por entregar-se como mártir para proteger a irmã, o que parece ter aguçado ainda mais os instintos cruéis de Gertrude; a crescente participação dos filhos e seus amigos na tortura, o que, certamente, é o mais chocante na história; a omissão de todos, incluindo vizinhos, em socorrer Sylvia.

Atenção especial (diga-se especial para quem não sabe o desenlace da história real) para o final comovente, quando Sylvia faz questão de voltar à casa onde fora enclausurada.

E destaca-se ainda a excelente atuação das atrizes principais, Ellen Page (a mesma de Juno) como Sylvia, e Catherine Keener (de Capote) como Gertrude.

Um Crime Americano não aponta causas nem soluções para tamanha violência. No que o diretor acertou, na minha opinião. Ao contrário, ao mostrar a situação através de um recorte baseado no que de fato aconteceu, ele nos fornece a opção da reflexão, da análise.

Talvez a grande questão que fique ao final do filme, seja: "Um Crime Americano?"

Curb Your Enthusiasm – A Reinvenção do Sitcom

  Curb Your Enthusiasm é um dos mais brilhantes sitcoms da televisão norte-americana depois de Seinfeld . O criador de ambos, Larry David...