terça-feira, dezembro 07, 2010

Oceanos (Océans)


Oceanos (Océans, Jacques Perrin e Jacques Cluzaud, 2009) é acima de tudo um belo filme, com imagens espetaculares, e que só agora chega aos cinemas do país.

Documentário rodado em mares e praias ao redor do mundo, co-producção entre França, Suíça e Espanha, mostra a diversidade da vida marinha dos oceanos e a rica cadeia alimentar que propiciam, além de exibir animais raros que habitam as profundezas dos mares. Denuncia também a poluição e a matança de baleias e tubarões, bem como o perigo que a presença iminente do homem pode causar às regiões polares.

Com grandes patrocínios, incluindo o apoio do príncipe Albert, de Mônaco, o filme nos brinda com lindas imagens em longos planos de golfinhos, focas e baleias em bando, sendo o mar o centro do espetáculo.

Um documentário necessário pelo alerta que faz ao nos mostrar que toda essa beleza pode desaparecer em breve (não há tanto tempo assim) na medida em que aumenta o despejo de esgotos, lixo e óleo nos mares.

domingo, setembro 26, 2010

Tropa de Elite 2: roteiro, efeitos especiais e montagem

Wagner Moura (Nascimento)
Crédito: Alexandre Lima
José Padilha fez em Ônibus 174 um dos melhores documentários brasileiros dos últimos tempos. Em verdade, na minha opinião, apenas um filme o supera no mesmo gênero, Santiago (2007), de João Moreira Salles, em si mesmo uma aula de fazer e pensar documentário, uma lição de cinema. Em Ônibus 174, vemos a estrutura de um documentário fundado em forte pesquisa temática e de personagem (central e periféricos). O dedo apontado para nós, sociedade, ao final do filme continua em Tropa de Elite, este um filme que, juntamente com Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, trouxe uma ruptura com o filme brasileiro de ficção feito anteriormente. Por meio da montagem, do ótimo trabalho no roteiro e da nova direção de atores, as duas obras foram responsáveis por propor novo ritmo ao cinema nacional ficcional.

Em Tropa de Elite 2, o inimigo agora é outro, a tendência é seguir o mesmo caminho de sucesso alcançado pelo primeiro filme da série, vide a equipe que o compõe.


Pesquisa e Roteiro
O trabalho de pesquisa, que teve como consultores Rodrigo Pimentel, o deputado estadual Marcelo Freixo e a delegacia comandada pelo delegado Cláudio Ferraz, foi realizado por quase dois anos antes de o roteiro do roteirista Braulio Mantovani e do diretor José Padilha ganhar forma. Ambos construíram uma história atual, baseada em fatos reais que se misturam a história fictícia de Nascimento (Wagner Moura), da sua família, e de seus amigos, para falar da realidade do Brasil no cinema. O protagonista, agora dez anos mais velho, cresce na carreira: passa a ser comandante geral do BOPE, e depois Sub Secretário de Inteligência. Em suas novas funções, Nascimento faz o BOPE crescer e coloca o tráfico de drogas de joelhos, mas não percebe que ao fazê-lo, está ajudando aos seus verdadeiros inimigos: policiais e políticos corruptos, com interesses eleitoreiros. Agora, os inimigos de Nascimento, são bem mais perigosos.

Em Tropa 2 o principal arco dramático do filme, que no primeiro Tropa foi de Mathias (André Ramiro), será de Nascimento. Como o próprio Nascimento diz em Tropa 2, "agora é pessoal".

Bráulio Mantovani entrou em Tropa de Elite já com o primeiro tratamento do roteiro pronto, como consultor, script doctor, e acabou mudando o foco narrativo do filme na sala de montagem ao lado do diretor José Padilha e do editor Daniel Rezende. A ousadia realizada sem regravação de cena, apenas com offs reescritos, transformou o personagem secundário em protagonista. O feito, “uma loucura, que beirava o impossível”, como dizia na época, acabou fazendo de Tropa 2 “quase uma obrigação”. “Tropa era para o Mathias (André Ramiro), mas o Wagner (Moura) roubou o filme. O Nascimento era mais um narrador. Foi o Wagner que fez a gente descobri-lo. Agora sim, vamos explorar todas as contradições dele a fundo e levá-lo aos seus limites”, diz. “Tropa 2 é um mergulho nas contradições do Nascimento. É a descida dele aos infernos”, completa. Fora a “obrigação”, a ideia de trabalhar o problema das milícias, outro assunto nunca tocado no cinema, segundo Mantovani, foi um presente. “As milícias são fenômenos tão recentes que os personagens precisavam envelhecer para poder lidar com eles. Tivemos que atualizar o tempo para que isso pudesse ser cronologicamente crível”, explica.“Durante um ano mais ou menos, fizemos cinco versões diferentes do roteiro. Tentamos vários caminhos. Numa parceria muito próxima com o Padilha e onde muitos participaram: Daniel Rezende, Marcos Prado, Wagner Moura...”, diz.

Paulista, formado em Língua e Literatura Portuguesa e pós-graduado em Roteiro Cinematográfico pela Universidade de Madri, Mantovani começou como roteirista de longa-metragem já indicado ao Oscar por Cidade de Deus, fruto de uma parceria iniciada em sua estréia como roteirista no curta Palace II (2001), de Fernando Meirelles. Já a dobradinha com José Padilha começou quando Mantovani escrevia o roteiro para a versão ficcional do documentário Ônibus 174, o filme Última Parada 174, de Bruno Barreto. “O Zé (Padilha) foi um verdadeiro produtor criativo, me ajudou muito no roteiro”, diz. A sintonia evoluiu com Tropa. “Aprendi com o Bráulio que eu não sabia escrever. Achava que sabia, mas levava três meses fazendo um tratamento que o Bráulio faz, muito melhor, em duas semanas”, dizia Padilha, na época do lançamento do primeiro Tropa.

Em Tropa 2 a proximidade, em especial com Padilha e Daniel Rezende, com quem trabalhou ainda em Cidade de Deus e O ano em que meus pais saíram de férias (2006), de Cao Hamburger, rendeu boas trocas. Montavani participou durante três dias da montagem. “Só visito a montagem, detesto ‘set’, acho chato, já estive muito” - antes de assinar roteiros, Mantovani trabalhou como assistente de direção e câmera e escreveu para teatro - “sinto que não tenho como ajudar, interagir, ali. Já na montagem e nos ensaios, sim. Não participei dos ensaios de Tropa 2 por impossibilidade de tempo. Mas nos ensaios dá para perceber o que funciona e o que não ainda dá tempo de alterar. E na montagem podemos mudar até o foco narrativo (ri).”

Apontado como um dos melhores construtores de diálogos hoje no ofício do roteiro no país, Mantovani desconversa.“Quase todas as frases de Tropa que viraram bordões saíram dos ensaios, da interação com o pessoal do BOPE. O que faz uma fala ter repercussão é a maneira, o carisma, como o ator diz o texto”, afirma. Mas se contestado, ele acaba reconhecendo algum mérito seu: “Claro que cada cena tem que estar muito bem escrita, tudo muito bem encadeado, para que os improvisos, o carisma, as sintonias aconteçam.”

Perguntado se costuma andar com caderninhos em busca de inspiração, responde: “Quando escuto coisas que gosto, guardo na memória e uso depois, mas não tenho o hábito de anotar frases de forma sistemática”. E afirma: “Eu não me levo muito a sério. É tudo rock’nroll (ri).”


Efeitos Especiais e outros
Uma equipe de efeitos especiais, com nomes como Bruno Van Zeebroek, de Transformers, William Boggs, de Homem-aranha, e Keith Woulard, de O Curioso Caso de Benjamin Button, Independence Day e Forrest Gump, trabalhou no set de Tropa 2. O presídio de Bangu 1 foi reconstruído em seus mínimos detalhes num estúdio de mil metros quadrados, consumindo cerca de 15% do orçamento. Corpos carbonizados foram criados pelo mestre da maquiagem Martin Trujillo. Câmeras foram penduradas em cordas para dar maior proximidade e ineditismo à marcante fotografia de Lula Carvalho. Um andar inteiro de um edifício na Av. Presidente Vargas, centro do Rio, voltou a ser sede da Secretaria de Segurança Pública do Estado.


Montagem
“A estética de Tropa 2 - presente na edição - espelha a idade, o momento, dos personagens”, diz Daniel Rezende. “Nosso maior medo era fazer mais duas horas do primeiro filme. Tropa 2 tem uma pegada diferente. O considero mais adulto. O primeiro tem uma energia visceral. Muito da descoberta. O segundo vai para os bastidores, para a política, sem perder a ação, a agilidade, a brutalidade do BOPE, o universo pop no qual Tropa está inserido. Mas tem menos música comprada. Tem menos off de narração. Mais tempo de silêncio. É tensão pura, tem cenas catárticas, mas dentro de um espírito mais maduro. Tropa 2 já nasce pop por natureza. Não precisa reforçar isso”, diz.

O editor, contrariando cânones cinematográficos, participou de todas as filmagens de Tropa 2, como diretor de segunda unidade.“Nunca tinha trabalhado assim. Só tinha ido em refilmagem já montando. Existe uma facção que diz que o montador nunca deve ir ao set, porque é bom manter o olhar fresco, mais próximo do espectador. Mas aprendi muito. Montador sempre se pergunta porque não filmaram isso ou aquilo. Para ele, parece óbvio, mas no set você entende porque aquilo que, às vezes, você mais precisa não foi feito. O Zé (Padilha) me chamou ainda na pré-produção. Pensamos juntos desde o início.E ganhamos em acerto e rapidez”, diz.

Tropa 2 levou três meses e meio em edição, quando normalmente um filme desse porte leva cerca de sete, o
dobro. “O Zé fazia no papel onde estariam as câmeras, para saber se estávamos cobrindo tudo. Eu, às vezes, indicava um lugar para cortar, como num close. Temos muitos planos sequência, então ia assistindo ao ‘take’ rolando e já pensando que trecho poderia usar. O Renato Martins, montador associado, ia preparando o primeiro corte de cada cena, baseado na minha conversa com o Zé. Muitas vezes, depois da filmagem passava na ilha e direcionava o que ele tinha feito. Quando fui de fato editar, já tinha boa parte do trabalho feito”, explica.

Sobre como resolveu na montagem as muitas idas e voltas no tempo do filme, Rezende responde: “ele parece que vai e volta, mas não é tão assim”. “Atribuem sempre o mérito de ir e voltar no tempo, sem perda de ritmo ou entendimento, à montagem, mas se não funciona é porque no roteiro não estava bem construído”, diz. O elogio endereçado ao roteirista Bráulio Mantovani exprime uma parceria sólida. “Se pudesse só trabalhava com ele. O montador é o olho mais cru. Mas depois de estar ali na ilha há meses, ele vicia. Ter o Bráulio, que vem lá de trás, nessa hora, ajuda muito”, diz. 

**Foto, entrevistas e dados de produção extraídos do press book distribuído pela assessoria de imprensa do filme, Belém Com, http://www.belemcom.com.br/

Mais informações:

quinta-feira, setembro 23, 2010

Filme ruim abre Festival do Rio 2010

A Suprema Felicidade, de Arnaldo Jabor, selecionado para abrir o Festival do Rio 2010, é uma grande decepção frente a alguns dos ótimos trabalhos realizados pelo diretor no passado. Fazendo distorcida referência a filmes de Federico Fellini e outros diretores, a citação acaba por soar como pretensão quando comparada às obras dos grandes mestres do cinema. A péssima direção de atores os leva a uma interpretação artificial, forçada e desprovida de sentimento. O roteiro é ruim, com diálogos não convincentes e situações inverossímeis. Os personagens falam palavrões e usam gírias atuais em pleno pós-guerra, anos 40/50, tempo em que os valores eram outros. A obscenidade e por vezes o nu e o sexo aparecem de modo incisivo, o que se destaca pela inadequação a uma época em que a sociedade brasileira era ultraconservadora. Em meio a tudo isso, também somos incomodados pela péssima voz da atriz principal, que canta desafinadamente. Enfim, uma lástima que tal filme tenha sido selecionado para abrir o Festival do Rio deste ano.
Se não bastasse, acabo de ler nos jornais que 'Lula, o Filho do Brasil', de Fábio Barreto, foi indicado como o representante nacional para concorrer ao Oscar 2011, uma notícia no mínimo desconfortável. O Brasil virou um lugar estranho para a liberdade e a criação.

quinta-feira, maio 27, 2010

Coco Chanel & Igor Stravinsky


Uma das grandes atrações do Festival Varilux do Cinema Francês, que acontece de 02 a 10 de junho em nove capitais brasileiras, é Coco Chanel & Igor Stravinsky, de Jan Kounen (2009). Com excelente cenografia e interpretação por parte dos atores, o filme mostra de modo essencialmente visual a relação entre Chanel e Stravinsky, justamente em seus momentos de maior criatividade, cada qual em sua arte, incluindo a criação do famoso perfume.
Destaco o roteiro adaptado por Chris Greenhalgh sobre novela de sua autoria, roteiro esse que prima por privilegiar essencialmente a atmosfera dos relacionamentos, seja entre os potenciais amantes, seja entre pais e filhos, no triângulo amoroso ou mesmo entre empregados e patrões.
Chama também atenção o impressionante trabalho de interpretação da atriz russa Yelena Morozova, como Katarina, a mulher de Stravinsky.
O Festival Varilux irá exibir 10 filmes inéditos no país e é o primeiro evento a ser realizado após a assinatura de um novo acordo de co-produção com a França.

sexta-feira, maio 21, 2010

The Ghost Writer


The Ghost Writer é o mais recente filme do diretor Roman Polanski. Mas, pena, é fraquinho. A ambientação é perfeita. Porém, a história foi mal desenvolvida. Há muito suspense para uma história que não se sustenta, ou melhor, nem acontece. O filme parece só acontecer na cena final. Enfim, para quem, como eu, curte Ewan MacGregor, cenários frios e cinzentos e um Polanski na direção, mesmo que distante de seus melhores dias, vale a ida ao cinema. Mas sem grandes esperanças de vê-lo como nos bons tempos de Chinatown (1974), onde o suspense era enaltecido por um exemplar roteiro.

segunda-feira, maio 17, 2010

Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague


Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague (Les deux de la Vague, 2009), de Emmanuel Laurent, apresentado no Festival de Cannes 2009 e que chega agora ao cinemas do Brasil, é um documentário indispensável não só aos estudantes e professores de cinema e audiovisual em geral, mas também aos cinéfilos. Trazendo no elenco Jean-Luc Godard, Jean-Pierre Léaud (o grande astro do Movimento, eterno protagonista do filme marco Os Incompreendidos, de Truffaut), François Truffaut, Isild Le Besco e outros, Les deux de la Vague (nome bem mais apropriado, como sempre, do que a versão brasileira do título) mostra o nascimento do movimento e também de suas estrelas, a importância da Cahiers du Cinéma e de Andre Bazin, o fim da Nouvelle Vague e a ruptura entre Godard e Truffaut, bem como as posteriores homenagens fílmicas que cada qual prestou ao outro, passando ainda pelas influências de Ingmar Bergman e Hitchcock.

Um filme que vem incrementar o estudo do cinema, como antes o fizeram, cada qual à sua maneira, os documentários A Personal Journey with Martin Scorsese Through American Movies (1995) e Il mio viaggio in Italia (1999), ambos de Martin Scorsese, A Decade Under the Influence (Ted Demme e Richard La Gravenese, 2003).

sábado, janeiro 30, 2010

Invictus, de Clnt Eastwood

Assisti ontem à estréia de Invictus, de Clint Eastwood.

Invictus é um presente, em especial para mim, porque reúne 4 pessoas que muito admiro.

1) Morgan Freeman, que obteve o papel de sua vida nesse filme, como Nelson Mandela, aquele que lhe faltava em sua filmografia já recheada de ótimas interpretações, um ator que considero de primeira grandeza e que já havia atuado em outros 2 filmes sob direção de Clint, Os Imperdoáveis (1992) e Menina de Ouro (2004). Com este ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante.

2) Matt Damon é um ator culto, tendo recebido forte influência da mãe, professora universitária e amante das artes, formou-se em Harvard. Além de ator, é também roteirista premiado com o Oscar de melhor roteiro, juntamente com seu amigo de infância Ben Affleck, pelo roteiro de Gênio Indomável, dirigido por Gus Van Sant em 1997. Damon criou uma forma muito própria de interpretar marcada pela discrição, onde não se coloca em primeiro plano mesmo quando é protagonista, um ator perfeccionista quando da preparação de seus personagens, tanto fisicamente quanto em profundidade. Foi assim quando viveu o agente Jason Bourne na trilogia Bourne, onde criou uma nova forma de interpretação para heróis de filmes de ação; e foi assim também em O Bom Pastor (2006), sob a eficiente direção de Robert De Niro, no qual viveu um agente da CIA, na época de sua criação, em confronto direto com intensos problemas pessoais.

3) Nelson Mandela, personagem real que serviu de inspiração para a realização de Invictus: torna-se dificil, quase impossível, escrever em poucas linhas sobre alguém como ele. Um mito vivo, Mandela é, acima de tudo, um exemplo de que a verdadeira essência humana nada pode suplantar. Um espelho para um mundo que precisa de exemplos, que precisa acreditar que ideais humanitários podem sobreviver a todo tipo de adversidade. Um dos grandes trunfos de Invictus foi a opção por se fazer um recorte de um evento em especial entre os muitos na vasta vida de Mandela, evento que resume em si sua inteligência e capacidade de liderança, e que demonstra como e porque um só homem conseguiu unir a África do Sul. Outro trunfo do filme foi manter como linha condutora da estória a idéia de mostrar-se Mandela como exemplo de vida. Um grande acerto do roteiro.
4) Clint Eastwood. O diretor que mais admiro na atualidade e sobre o qual dediquei uma postagem inteira com comentários sobre alguns de seus filmes (vide arquivo do blog 2009, "E Viva Clint!", de 04 de junho de 2009), faz em Invictus uma bela homenagem não somente a Nelson Mandela, mas à própria linguagem de cinema. Nesse filme o tema principal não é o rugby, assim como Menina de Ouro não era um filme sobre boxe. Clint é um daqueles raros diretores que usa um tema que interessa a multidões (no caso dos filmes citados, o esporte) para atrair os espectadores e lhes entregar outra coisa. Os filmes de Clint, em geral, falam sempre de outras coisas. Seu cinema nos faz pensar e refletir sobre nossas falhas, sobre a vida, sobre nós mesmos. Ele resgata por meio de seus personagens um quê de simplicidade e de essência humana livre, liberta de preconceitos, de dogmas, do sucesso a qualquer preço. É um cinema que nos toca com a mesma suavidade com que o diretor se expressa verbalmente. Seus recados são sempre sutis, sem deixar de serem diretos.
O cinema de Clint é um cinema necessário. E com Invictus ele se mantém fiel a essa premissa.

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Dersu Uzala e Eu

Muito se tem dito nas últimas semanas sobre dois filmes: Lula, o Filho do Brasil, de Fábio Barreto (2009), e Avatar, de James Cameron (2009). Não posso falar sobre eles, até porque não os assisti. E não os assistirei. Em verdade, não fazem parte do cinema que me interessa.

No intuito de desfrutar de um bom filme e ser fiel às minhas convicções cinematográficas, revi esses dias Dersu Uzala, de Akira Kurosawa (1975). Tive o privilégio de vê-lo na sala de cinema da embaixada da então União Soviética, em Brasília, em alguma data entre 1982 e 1984, não me recordo ao certo, cidade onde eu morava na época.
Nos anos 80, era comum que as embaixadas situadas na capital federal promovessem mostras gratuitas de filmes (não sei se isso ainda acontece) e foi assim que fui me apaixonando por cinema. Eu era assídua frequentadora daquelas mostras e raramente perdíamos alguma, eu e meus amigos da universidade. A sala Le Corbusier, na embaixada da França, exibia filmes sempre aos domingos. Na embaixada alemã vi várias mostras de filmes alemães, onde pude conhecer a filmografia de Fassbinder, Herzog e outros. Aos poucos, percebendo o sucesso de público que eram tais mostras, o circuito de filmes de embaixadas foi crescendo com a adesão de mais espaços como a embaixada do Japão, da Coréia, da antiga Tchecoslováquia, da Polônia, entre tantas outras.
Em meio àquela efervescência cinematográfica que vivia Brasília e que emergia justamente com o fim do período da ditadura militar, a embaixada da União Soviética abriu-se pela primeira vez à visitação pública. E o fez através de uma exibição de cinema. Era um período em que ainda vivíamos os resquícios da guerra fria e havia uma tensão no ar quando entramos na embaixada naquela noite da exibição. Éramos observados o tempo todo por homens dispostos em vários locais, nos pisos superiores, principalmente.

Para longe de tudo isso, minha atenção recaía sobre o local em si e sobre a magia que cercava aquele momento. Afinal, eu veria um filme de Kurosawa, proibido por aqui e, portanto, ainda inédito no país. Proibido pelo simples fato de tratar-se de uma co-produção entre Japão e União Soviética e por ser ambientado nos campos da Sibéria, ou seja, em cenário russo. Por isso, o filme, que passava ao largo de qualquer discussão política, fora, mesmo assim, proibido. Mesmo se não o fosse, eu pensava, era Kurosawa! Minha alma sorria!
As instalações da embaixada eram, por si só, uma atração a parte. Com aspecto impecável, finamente decorada e iluminada, tratada como que para uma festa suntuosa, a embaixada abria-se à visitação em grande estilo e com intenção de impressionar. Entre tantas coisas preciosas, como grandes vasos e tapetes, os imensos lustres me chamaram atenção, principalmente o do hall central, e dele nunca me esqueci. Assim como do calendário para o ano seguinte distribuído a todos os presentes, com posteres lindíssimos de diversas regiões da União Soviética. Meu pai me dissera posteriormente que aquilo era propaganda comunista.
Para mim, ao contrário, tratava-se de uma jóia rara, a me lembrar para sempre de Dersu Uzala, tanto do personagem tão cativante em seu convívio com a natureza e com os homens, em contraste com sua inadequação à vida urbana, quanto do filme em si, totalmente livre de qualquer postura ideológica, alheio à polarização do mundo e à estreiteza de mentes incapazes de entender o que seja uma verdadeira expressão artística.
Mais de 20 anos depois, revendo Dersu Uzala, fiquei pensando ser mesmo uma pena que no Brasil nosso cinema, em geral, não consiga construir personagens tão universais quanto Dersu, aquele singelo homem da Sibéria que tem tanto de todos nós, seja em que lugar do mundo estejamos. Essa grande lacuna do cinema brasileiro se daria por uma questão de produção? De distribuição? De vocação? Seja qual for a resposta, é preciso admitir que são muitas as falhas que distanciam nosso cinema de uma linguagem cinematográfica universal.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Ervas Daninhas (Les herbes folles)


Estréia na próxima sexta-feira, 15, no Rio de Janeiro, o novo filme de Alain Resnais.

Um dos melhores diretores da Nouvelle Vague e meu preferido daquela geração, conseguiu o feito de realizar diversas obras-primas, entre elas Hiroshima, Meu Amor (Hiroshima Mon Amour, 1959) e O Ano Passado em Marienbad (L' année dernière à Marienbad, 1961).

Realizou também curtas onde impôs sua visão culta, verdadeira, original e sempre humanista sobre diversos temas: Van Gogh (1948) e Gauguin (1950); As Estátuas Também Morrem (Les Statues Meurrent Aussi, 1953), sobre arte africana e racismo; Noite e Neblina (Nuit et Brouillard, 1960), sobre o holocausto.

São dele também os longas Amores Parisienses (On conait la chanson, 1997) e Meu Tio da América (Mon Oncle d' Amérique, 1980).

Dentre sua extensa e bem sucedida filmografia, destaca-se ainda o recente sucesso Medos Privados em Lugares Públicos (Coeurs, 2006), filme que ficou em cartaz por mais de um ano na capital paulista. O longa é um excelente exemplo de construção de personagens.
Em Ervas Daninhas, Resnais dá prosseguimento a seu estilo de trabalhar prioritariamente o personagem. Aqui, centra-se a narrativa em torno de Marguerite, uma dentista solteira que perde sua carteira, a qual é encontrada por Georges, casado e pai de dois filhos.
Destaque para o excelente ator Mathieu Amalric, no papel de Georges, que ficou mais conhecido no Brasil pelo sucesso O Escafandro e A Borboleta (Le Scaphandre et le papillon, 2007, Julian Schnabel). Mas Amalric tem uma extensa filmografia, com ótima participação em Munique (Munich, 2005, Steven Spielberg).

Em seus 87 anos, Alain Resnais mantém uma visão sempre atual sobre o mundo em que vive. E demonstra que a verdadeira arte não envelhece.

Curb Your Enthusiasm – A Reinvenção do Sitcom

  Curb Your Enthusiasm é um dos mais brilhantes sitcoms da televisão norte-americana depois de Seinfeld . O criador de ambos, Larry David...