
Vi Gran Torino e A Troca e só posso reafirmar: eu amo Clint Eastwood! E como sou fã do cara, preferi Gran Torino (2008, com roteiro de Nick Schenk) do que A Troca (2008, roteiro de J. Michael Straczynski). Apesar do primeiro ser mais ingênuo em termos de roteiro do que o segundo, que apresenta mais tramas e tem uma estrutura mais complexa, apesar disso, ainda gosto mais de Gran Torino e por uma simples razão: ele tem bem mais a marca estilística de Clint.

Se há um diretor norte-americano contemporâneo que me emociona é Clint Eastwood. Sempre aguardo suas estréias com expectativa e nunca me decepciono. Talvez porque Clint seja um diretor de estilo. E aí sempre me recordo da matriz, conceito defendido pelo estudioso Jean-Claude Bernardet no livro O autor no cinema: a política dos autores (Brasiliense/USP, 1994). Em termos gerais, segundo ele, a matriz pode ser identificada, ou decantada, no que há de comum no conjunto da filmografia de um diretor. Em outros termos, ela se traduz no estilo de direção.

Aplicando a matriz à produção de Clint Eastwood desde Bird (1988), passando por As Pontes de Madison (1995), Sobre Meninos e Lobos (2003), Menina de Ouro (2004), Cartas de Iwo Jima (2006), A Conquista da Honra (2006), Gran Torino e A Troca (ambos de 2008), para não citar outros filmes, observa-se claramente um estilo que segue uma linha humanista, onde o diretor busca enfocar os dramas comuns de pessoas comuns e onde não há espaço para a figura do herói e nem para finais felizes.

O cinema de Clint é um cinema off-Hollywood. Não há glamour, não há redenção para seus personagens, que quase sempre habitam cenários periféricos e, não raro, decadentes.

Seus filmes tratam simplesmente de pessoas no que elas têm de mais comum conosco: fracassos, impossibilidades, doenças, velhice, preconceitos e realidades. Dentro deste quadro, seus personagens podem se transformar, mas nunca de um modo clássico. Afinal, os finais felizes são invenção de Hollywood. E Clint foge a esse modelo.
Igualmente, a fé é vista em seu cinema de uma forma bastante descrente. A Igreja está presente, mas essa presença é dúbia. Os padres costumam ser muito próximos dos personagens vividos por Clint. Porém, a relação que estes estabelecem com a Igreja costuma ser sempre um tanto ácida, marcada por uma forte ironia, que parece traduzir o fato de que àqueles personagens só reste acreditar em algo em que a comunidade na qual estão inseridos crê, mas que a eles, enquanto indivíduos, não diz muito.

O ex-galã de filmes italianos virou um diretor extremamente sensível, que apresenta um cinema acima de tudo corajoso na medida em que há muito rejeita soluções fáceis. 
