sábado, fevereiro 28, 2009

Quem quer ser um milionário? (Slumdog Millionaire)

Quem quer ser um milionário?, do diretor inglês Danny Boyle (de Cova Rasa, 1994, e Trainspotting, 1996), arrecadou 8 estatuetas no Oscar 2009. Eu, que gosto de uma boa história e bem contada, apostava em O Leitor, confesso. E achava que o preferido da nova geração pelos efeitos visuais, O Curioso Caso de Benjamin Button, que particularmente a mim pouco me disse, fosse angariar muito mais prêmios do que recebeu.

Foi um alívio ver Milionário desbancar um cinema de trucagens. E mais ainda, ver um filme com outra fala, com outras histórias a contar, dominar a cena.
Gostei de Milionário, filme bem feito, moderno, montagem ágil. E encontrei nele muitas semelhanças com o filme de Fernando Meirelles, Cidade de Deus. Muitos críticos já comentaram isso, mas é inevitável citar minhas impressões.
Começando pelas seqüências (adoro tremas - desculpe não cumprir as novas regras gramaticais) iniciais do filme - quando tem início a perseguição na favela indiana, imediatamente me reportei à perseguição da galinha na primeira cena de Cidade de Deus. As tomadas sobre os telhados, as crianças correndo pelas ruelas, a câmera rápida atrás delas, a cena quase documental, a tonalidade da imagem, isso tudo em Milionário lembrou-me o filme do Meirelles.
Para citar apenas mais uma comparação, igualmente entre as seqüências iniciais do ganhador do Oscar, a cena onde os meninos jogam bola possui tomadas e ângulos de câmera muito semelhantes à cena em que garotos igualmente jogam bola em Cidade de Deus, também no inicio deste, acredito que no primeiro flash-back.
Penso também que Boyle fez a mesma opção que Meirelles ao abordar um tema que envolve juventude e periferia: cercar sua narrativa ágil e moderna de uma montagem e edição atraentes, além de utilizar-se de não-atores na busca de um maior realismo.
As semelhanças, porém, ficam por aí. Tratam-se de modos diversos de contar a saga de um menino pobre de periferia em busca de uma situação melhor.
Dois ótimos filmes a meu ver. Porém, Cidade de Deus não perde sua primazia entre meus preferidos. Eu não verei o Milionário além da sessão de cinema a qual compareci. Já o filme do Meirelles vi no cinema várias vezes, revi em dvd e minha vontade de revisitá-lo ainda não se esgotou.
Talvez seja essa, para mim, a grande diferença entre os dois filmes.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Rio Congelado (Frozen River)



Rio Congelado (Estados Unidos, 2008) apresenta uma abordagem única sobre a questão da imigração ilegal para os Estados Unidos. O diferencial está no olhar feminino sobre a questão, principalmente sob o ponto de vista da maternidade, em um filme muito bem construído pela diretora e roteirista Courtney Hunt.
A protagonista é Ray, interpretada em intensa densidade dramática pela atriz Melissa Leo (de 21 Gramas), mãe de dois filhos recentemente abandonada pelo marido, ela passa os dias a espera de seu cada vez mais improvável retorno, em uma situação financeira que a coloca a beira de um abismo. Na busca pelo marido, encontra Lila (Misty Upham), uma coiote que tira seu sustento do transporte ilegal de imigrantes pela fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos. Pressionada pela falta de dinheiro e pelo sonho da compra de uma casa para si e seus filhos, Ray estabelece uma parceria com Lila, entrando no negócio com seu próprio carro que levará no porta-malas os imigrantes de um país a outro por meio da travessia do rio congelado que separa a frágil fronteira, situada dentro de uma reserva indígena.
No interior do intenso clima de suspense de Rio Congelado não há espaço para heróis nem vencedores, muito menos para julgamentos. O que vemos são mulheres que tentam manter suas famílias em meio a seus conflitos internos em um cenário natural que lhes é também hostil, duro como a vida das personagens. E é esse cenário que parece forjar sua determinação.
O filme é indicado ao Oscar 2009 em duas categorias: melhor atriz para Melissa Leo e melhor roteiro original para Courtney Hunt.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Adaptação literária e o espectador de cinema em O Menino do Pijama Listrado

É um grande erro desprezar-se o senso crítico do espectador de cinema. Porque, mesmo que não seja cinéfilo ou desconheça a linguagem cinematográfica, ele sabe muito bem quando um filme vai bem ou não.

O Menino do Pijama Listrado (The Boy in the Striped Pajamas), 2008, uma adaptação para o cinema do livro homônimo de John Boyne, que também assina o roteiro juntamente com o diretor Mark Herman, pode ser citado como exemplo. No início da exibição, ouvi alguém sussurrar com incredulidade atrás de minha poltrona algo que também havia me impactado, como uma ducha de água fria, logo no primeiro diálogo: “O filme é falado em inglês?”. A frustração da platéia era compreensível. O idioma alemão traria mais realismo ao filme. Juntamente com os cenários, figurinos e outros elementos, seria uma importante ponte para a verossimilhança, princípio basilar da linguagem do cinema e fundamental para a identificação das platéias.

Porém, essa não foi a única decepção. Uma breve análise revela personagens vazios e inverossímeis. A mãe, apesar de alemã e esposa de um alto integrante dos comandos nazistas, não somente chora pelos judeus como também se coloca contra o marido, entrando em depressão ao descobrir que ele é chefe de um campo de extermínio. Ele, o pai, é um personagem igualmente mal construído, fraco em demasia diante das relações familiares, mas não só ali. A relação com a mulher é extremamente frágil, sem a profundidade que o roteiro poderia ter explorado. Bruno, o filho, personagem central da trama, é o único entre os aqui citados, que apresenta uma construção aprofundada e progressiva. Ele tem um claro objetivo: ter um amigo naquele lugar para onde a família se muda. Porém, sua ingenuidade frente à questão dos judeus também soa duvidosa ao público, dado o contexto em que estava inserido. O menino acredita que o local que vê de sua janela na nova morada é uma fazenda que abriga fazendeiros de pijama listrado. Ali, encontra, sem que a família saiba, o pequeno Shmuel, um menino judeu com quem estabelece amizade entre as cercas eletrificadas do campo.

É interessante voltar a um ponto aqui exposto: o filme analisado é uma adaptação literária. No livro, tais licenças são aceitas, quando bem desenvolvidas, por fazerem parte da linguagem literária. Em cinema, além da verossimilhança pura, o princípio primeiro da identificação com o espectador, existe ainda a questão da verossimilhança intrínseca à própria linguagem de cinema. Por isso, entre outros, nos parece tão natural Indiana Jones correr de uma pedra imensa muito próxima a ele, sair intacto e ainda com seu eterno chapéu enterrado à cabeça. No caso de O Menino do Pijama Listrado, esperava-se mais intensidade de uma família alemã pertencente ao partido nazista e cujo patriarca é chefe de um campo de extermínio. Ou seja, literatura e cinema são duas artes distintas. O que bem funciona em uma delas, pode não funcionar na outra.

Porque o espectador aguarda o mergulho na tela, quer sentir-se inserido na história como se ela fora real, deseja estar em outros lugares, desligar-se de si ou reconectar-se por meio do lúdico e da impressão de realidade que só o cinema é capaz de fazê-lo.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

O Leitor (The reader)

Forte candidato a ganhar várias estatuetas no Oscar deste ano e já vencedor de diversos prêmios, O Leitor (The reader) é um filme que tem história, mas não só isso: sabe muito bem contar uma boa história. E é isso, entre outros, que faz dele um filme raro na cinematografia ocidental contemporânea.

Outro atrativo é a estupenda interpretação de Kate Winslet. Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças e Pecados Íntimos são apenas dois dos títulos que compõem a intensa filmografia da atriz. O diretor Stephen Daldry, de As Horas, soube muito bem explorar sua intensidade dramática, fazendo com que ela chegasse a uma de suas melhores interpretações dos últimos anos.

Uma mulher solitária se envolve com um rapaz ainda adolescente, que aparenta ter a metade de sua idade. Esse é o ponto de partida dessa história múltipla, com várias idas e vindas no tempo, que em nada atrapalham ou dificultam a compreensão de seu todo. Ao contrário, as surpresas do caminho e o segredo da protagonista, pelo qual sacrifica sua própria liberdade, são como a virada de página de um bom livro.
E é ele, justamente o livro, o centro da narrativa. Um atrativo a mais para todos os amantes da boa literatura e do cinema.
O Leitor está indicado a diversas categorias ao Oscar 2009, entre eles, melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro adaptado e melhor atriz.

DÚVIDA (Doubt)

Dúvida, dirigido por John Patrick Shanley, aborda a pedofilia de uma forma bastante distinta da adotada por Pedro Almodóvar no ótimo Má Educação (2004). Aqui, o diretor espanhol centrava a narrativa na exposição explícita do ato e em suas reais conseqüências a uma vítima.

Shanley, ao contrário, tem a intenção de deixar a dúvida no ar, tal qual acontece na maior parte das acusações por tais crimes que envolvam padres, igrejas e seus muros, mas não só ali. A abordagem é sutil, o crime, se houve, não é visto. Não há provas, não há testemunhos. A vítima não se considera como tal e o padre parece inocente, mas também pode ser culpado. A incerteza está presente em cada diálogo, em cada tomada.

A cena se passa em uma escola católica do Bronx, Nova York, em 1964. A dura diretora, interpretada pela sempre magnífica Meryl Strep, recebe uma denúncia, que também não parece bem sê-la, de uma jovem freira (Amy Adams). Esta não sabe bem o que viu, mas em uma conversa com sua superiora expõe-lhe algumas atitudes que considera suspeitas por parte do popular padre da escola, vivido pelo excelente Philip Seymour Hoffman (Capote; O Talentoso Ripley).

O filme soa um tanto fraco na abordagem do tema pedofilia. A excessiva opção pela incerteza esvazia a história de uma possível reflexão mais aprofundada, sem chegar a emocionar.

Os três atores centrais estão indicados ao Oscar 2009: melhor atriz para Meryl Strep; melhor ator coadjuvante para Philip Seymour Hoffman e melhor atriz coadjuvante para Viola Davis.

Curb Your Enthusiasm – A Reinvenção do Sitcom

  Curb Your Enthusiasm é um dos mais brilhantes sitcoms da televisão norte-americana depois de Seinfeld . O criador de ambos, Larry David...